sábado, 14 de maio de 2011

  • É pejorativo chamar a conspiração de “inconfidência”?

    Luciano Figueiredo 

    Muitos recusam a designação “inconfidência” por estar imediatamente associada à ótica dos poderosos, da repressão e dos grupos que destroçaram os movimentos libertadores. É admitir que os conspiradores dos diversos cantos das Gerais cometeram um deslize ético condenável quando pretenderam libertar sua pátria. Usar esse termo, que neste contexto significa falta de fidelidade ao soberano ou ao Estado, é quase como assinar a sentença que condenou Tiradentes à morte.

    Por isso, não são poucos os que preferem “conjuração”, menos infensa a uma atitude politicamente incorreta. Conjurar, isto é, conspirar contra o governo ou autoridade estabelecida, tem mais dignidade. Uma transgressão libertária valoriza qualquer passado. As infidelidades, não. 

     Julgo que a negação do termo pode soar um pouco despropositada ou, pelo menos, exagerada. Afinal, quando se conhece a bagagem que certas expressões carregam, podemos tirar partido disso. Utilizá-las, desconstruí-las, é recurso proveitoso para o aprendizado e o debate.
     Certa vez, o professor Francisco Iglesias afirmou que considerava a palavra “inconfidência” “a nota mais viva da mitologia local”, defendendo assim sua permanência: “Além de ser palavra corrente, é carregada de sentido, de beleza fonética, plena de rebeldia e mistério”.

    Luciano Figueiredo é professor de História da UFF, editor da Revista de História da Biblioteca Nacional e autor de “Painel Histórico”, do livro A Poesia dos Inconfidentes, organizado por Domício Proença Filho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

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